A eleição de 2018 ruma para
ser um divisor de águas na história do Maranhão. Depois de meio século de
influência política, o clã Sarney tentará retornar ao Palácio dos Leões vendo
sua base derreter e aliados históricos debandarem em razão das derrotas nas
últimas duas campanhas.
Sinal dos tempos, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 72, não deve apoiar o nome de
José Sarney (MDB) para fazer frente ao que pode se tornar o ocaso de sua era.
concretizada, a aliança com
o governador Flávio Dino (PCdoB), 49, que tenta se reeleger, tirará pela
primeira vez o PT nacional da órbita do emedebista desde 2002.
Em uma demonstração de que a
família chega a essa encruzilhada sem sucessores à altura, Sarney, 87, precisou
convencer seu principal ativo, a filha, Roseana (PMDB), 64, a disputar o
governo.
O cenário para ela é
adverso. Dos 217 municípios, Dino conta com o apoio de 180 prefeitos. Quadros
historicamente ligados a Sarney, como o ex-ministro Gastão Vieira e os
deputados Pedro Fernandes (PTB), Cleber Verde (PRB) e André Fufuca (PP) estão
com o governador.
Além de procurar oferecer um
sobrenome alternativo, Ricardo Murad (PRP), 61, cunhado de Roseana, lançou-se
candidato a governador em uma estratégia para pulverizar a disputa e tentar
provocar o segundo turno.
“Pelo que conheço dele,
Sarney é a favor de candidaturas outras, sem ser só da Roseana. Ele sabe que
hoje ninguém tem maioria sozinho”, disse Murad. “A classe política o idolatra,
mas ele não conseguiu impedir o pessoal de sair [de sua base]. Quer uma frase?
Todo mundo está onde ele mandou estar: no governo.”
Outros nomes afinados com o
ex-presidente prometem surgir até junho, quando Roseana terá de formalizar se é
de fato candidata ou não.
Sua disposição é recebida
com cautela. Em 2016, ela ameaçou concorrer à Prefeitura de São Luís e recuou.
Naquela como nesta ocasião, a classe política local não vê a mesma determinação
de campanhas passadas.
Secretária da Casa Civil no
governo Roseana, Anna Graziella Neiva afirma que a candidatura da peemedebista
é irrefreável e contesta a debandada de aliados. “Roseana ama o Estado e não
abriria mão de lutar por ele. Já não temos mais agenda de tanto que nos
procuram. Dos 217 [prefeitos maranhenses], pode botar 217″, afirmou.
No realinhamento
pré-eleitoral, o vice-governador Carlos Brandão deixou o PSDB e deve levar
consigo parcela dos 30 prefeitos. O partido empossou o senador Roberto Rocha
seu presidente estadual e deverá lançá-lo candidato a governador para fazer
palanque a Geraldo Alckmin, na disputa à Presidência.
Herdeiros
A rigor, nas palavras,
Roseana se despediu da vida pública em 2014. Renunciou ao governo um mês antes
de encerrar o quarto mandato, não transmitiu o cargo a Dino, viajou para os EUA
com os netos e disse que cuidaria da saúde. Antecipou a volta, meses depois,
citada na Lava Jato.
Sua mãe, Marly, à época
afirmou que queria que o caçula, Sarney Filho (PV), assumisse a frente política
da família, mas o desejo da matriarca esbarrou no potencial eleitoral do filho.
Na avaliação de interlocutores da família, carisma e votos são especialidade de
pai e filha.
A expectativa é que,
concorrendo ao governo, Roseana puxe votos para o irmão disputar o Senado
depois de 35 anos de Câmara, ao lado do fiel aliado da família Edison Lobão
(PMDB).
Por ora, nenhum herdeiro da
terceira geração despontou. O filho de Zequinha, deputado estadual Adriano
Sarney (PV), 37, é visto como pouco combativo –lembrado, por exemplo, pelo
projeto que instituiu o Dia da Poesia.
A sua prima distante e
colega de Assembleia Andrea Murad (MDB), 36, filha de Ricardo, é, por sua vez,
considerada combativa demais. Líder da oposição formada por 5 dos 44 deputados,
não teria perfil de Executivo.
A unir o grupo de Sarney, o
discurso de que Dino “persegue” seus adversários é ecoado de parte a parte.
“Tem uma coisa nele de muita perseguição. Não libera emenda para quem não o
apoia. Quem não gosta do Flávio tem que fingir que gosta”, disse Andrea.
Para Ricardo Murad, Dino não
mudou a forma de fazer política dos Sarney. “Não critico a Roseana, critico o
modelo que ela recebeu e não teve a capacidade de renovar”, afirmou. “E Flávio
Dino copia, é igualzinho. A cooptação política, a tentativa de ter todas as
alas do seu lado. Pelo voto, faz-se tudo.”
“Quando eu assumi, o Portal
da Transparência tinha nota 2 na CGU. Hoje tem nota 10. É um salto de
transparência administrativa e cumprimento da Lei de Acesso à Informação”,
rebate Dino.
Enquanto os Murad já falam
em apoiar Alckmin, da parte dos Sarney ainda insiste em Lula. Os dois
ex-presidentes têm boa relação, mas o afastamento entre PMDB e PT após o
impeachment de Dilma Rousseff dificulta.
“A decisão é do diretório,
mas a tendência é apoiar Dino. Mesmo que o PCdoB mantenha a candidatura de
Manuela D’Avila, se ocorrer segundo turno, eles virão conosco e têm tido
lealdade”, diz Rui Falcão, ex-presidente do PT.
Fonte: Folha de S. Paulo
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