Fiéis do mundo inteiro
celebram, hoje (31), os 500 anos da Reforma Protestante. São muitos os eventos
que comemoram a data.
Nesta terça-feira, por
exemplo, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Maracaçumé vai realizar um
grande desfile pelas ruas da cidade para celebrar os 500 anos da reforma
protestante.
O centro mundial dessas
celebrações é Wittenberg, o vilarejo alemão onde nasceram as ideias que provocaram
a maior divisão da história do cristianismo.
No século XVI, em um tempo
em que as mentes humanas se iluminavam depois da Idade Média, o monge alemão
Martinho Lutero se uniu a outros pensadores da Europa e denunciou os abusos que
vinham sendo cometidos pela Igreja Católica à qual ele também pertencia.
Usou de uma nova tecnologia,
a imprensa, para multiplicar seus escritos e fazê-los percorrer a Alemanha e o
mundo. Traduziu a Bíblia para o alemão e conseguiu acabar com as missas em
latim para que as pessoas pudessem finalmente entender o que os pregadores
diziam.
Lutero era revolucionário,
mas não rompia completamente com a tradição cristã. Acreditava no
"terrível poder do diabo", pensava ser justo e necessário matar as
bruxas nas fogueiras, e acreditava profundamente nas ideias do apóstolo Paulo,
afirmando que "o justo viverá da fé", querendo dizer que "a
vontade humana não é livre para fazer o bem", porque, Lutero dizia,
"não existe livre-arbítrio; o homem às vezes busca o que é bom e nobre,
tenta se aproximar de Deus, mas age por culpa e egoísmo”.
No entendimento de Lutero, é
Deus que torna um homem bom ou justo, e a salvação só existe com uma
experiência pura de fé em Cristo. Os reformadores queriam acima de tudo
"sola scriptura", ou seja, fidelidade absoluta ao que dizem os
evangelhos. Daí terem sido chamados de evangélicos ou protestantes.
Doutor Lutero, como era
conhecido por causa da formação acadêmica, vivia em um antigo convento em
Wittenberg. O interessante desse ambiente é que ele nos faz voltar no tempo e
imaginar o que acontecia ali quando Lutero se reunia com estudantes,
trabalhava, escrevia e, principalmente, pensava sobre a reforma que ele estava
fazendo no mundo cristão.
No dia 31 de outubro de
1517, 500 anos atrás, em uma porta na entrada da igreja do castelo de
Wittenberg, Lutero pregou seu grande manifesto: um documento com 95 afirmações
profundamente críticas à venda de indulgências
pela Igreja Católica. Religiosos concediam o perdão divino em troca de
dinheiro ou de bens dos fiéis. Eram pessoas que queriam pagar por seus pecados
ainda aqui na Terra pensando que, com isso, garantiriam a entrada no reino dos
céus. Mas Lutero entendia que, de acordo com as escrituras, isso jamais seria
possível.
Em uma das teses mais duras
pregadas na porta da igreja, Lutero afirmava que os religiosos que vendiam
perdão estavam pregando "doutrinas humanas que dizem que assim que o
dinheiro entra no cofre a alma sai voando do purgatório".
Por fim, Lutero atacava
também a riqueza acumulada pelo Vaticano. "Os verdadeiros tesouros da
Igreja, de onde o papa distribui indulgências, não são suficientemente
discutidos ou conhecidos pelo povo de Cristo", ele dizia.
Por causa do ato de Lutero,
a Igreja do Castelo, que também é conhecida com a Igreja de Todos os Santos, se
tornou um marco do começo da Reforma Protestante. E até hoje, principalmente
agora, nas celebrações dos 500 anos, pessoas do mundo inteiro vão até lá
prestar homenagens ao homem que ousou desafiar a Igreja Católica num tempo de
trevas e acabou mudando os rumos da história.
O monge alemão entrou em uma
disputa tão perigosa com a Igreja que precisou passar um ano escondido em um
castelo.
Quando voltou a Wittenberg,
não mais católico, ele rejeitou a ideia de que padres deveriam ser celibatários
e se casou com uma freira que abandonou o convento. Passou a criticar o que
dizia ser um excesso de sacramentos e dogmas impostos pela Igreja. Foi
repreendido pelo Papa, mas jamais se desculpou.
Voltando ao que se entendia
serem as origens do cristianismo, surgiram as igrejas luteranas, presbiterianas
e muitas outras denominações, que mais tarde chegariam também ao Brasil.
A Igreja Católica sentiu o
golpe e viu uma debandada de fiéis. Muitos protestantes foram perseguidos e
algumas décadas depois veio uma guerra terrível pela Europa. De um lado nações
católicas, do outro, protestantes.
Em termos religiosos, a
reação do Vaticano veio no Concílio de Trento, em 1545. Foi quando começou a
chamada Contrarreforma, uma tentativa católica de recuperar os fiéis perdidos.
Só cinco décadas depois
daquele 31 de outubro de 1517, a venda de perdão, a venda de indulgências, foi
proibida pelo Vaticano. As feridas entre católicos e protestantes jamais foram
completamente curadas. Ainda que, recentemente, e muito lentamente, venha
surgindo um movimento de reaproximação.